terça-feira, 30 de abril de 2013

QUANDO MORRI EM ANTÔNIO DIAS



Eu nasci em Antônio Dias
Principalmente eu morri em Antônio Dia
Quando meus passos
Afastaram-me de colonial cidade
Senti que a vida não me acompanhou
Lá ficaram os sonhados horizontes
Ficou o primeiro amor
Ficou a escola estadual professor letro
E as lições de sonhos e de realidade
Comigo não vieram às pontes
Para ligar o hoje do espectro
Do ontem do século passado
Não encontrei em outras cidades
O querer que ditava meu coração
Só a tatuada lembrança
E um corpo estendido no chão

segunda-feira, 29 de abril de 2013

PREOCUPAÇÕES COM A VIDA E A MORTE

Eu não acordo todas as manhãs
Não sei o que é dormir,
Sobre o lençol revivo sonhos
Penso em cada ato
Revivo cada fato
Sabendo que não se posso fugir
E que o relógio malha o tempo da morte,
Nunca o da vida

Nunca posso dormir
Tenho medo extremo de morrer
Sem que a vida me faça companhia

Não quero a noite
Não quero o dia
Tudo que quero é viver

Eu não acordo todas as manhas...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

MOMENTO



Um beijo apaixonado
Um segundo
Contém o mundo
Num segundo
O beijo
É toda eternidade

quarta-feira, 24 de abril de 2013

TODO MORTAL É TAMBÉM UM DEUS


Não tenho vaidade de ser poeta
Tudo que escrevo é puro desabafo
O mundo não me deu escolha
Mas proveu-me de uma folha
De papel em branco
Cada palavra atesta
O que o coração franco
Calado manifesta

Não sei mentir a mim mesmo
Nem deixar o sonho abandonado
Se fico calado
Meu mundo se desfaz
Na escrita encontro paz
Sinto-me completo
Com todos os sentidos
Alertas
E as mais diversas portas
Abertas

Quando escrevo
Por mais simples que seja o verso
Sinto-me um deus
Recriando o universo

terça-feira, 23 de abril de 2013

ESSE ESTRANHO DESCONHECIDO



Só porque leu um poema meu
Não pense que me conhece
Esse sorriso que entristece
Tem mais de mil facetas
Pode ser Deus ou o Capeta
Esses vários todos sou eu.

Só porque conhece meu olhar
Não pense que me decifrou
Sou o perfume e o espinho de toda flor
Meu mapa nunca foi totalmente explorado
Sem uma bússola não se chega ao tesouro abandonado
Esse mundo desconhecido é o meu lar.

Só porque conhece algum segredo
Deste meu ser de milenar enigma
Não pense que já está por cima
Com uma palavra posso te derrubar
Tanto o céu como o inferno posso mudar
Se um dia sou coragem, em outro sou puro medo.

Desista. Nunca pretenda me descrever
Não há palavras para me classificar
Nem herói ou vilão para me comparar
Sou aquele que não pode ser decifrado
Cujo domínio publico já foi declarado
Sou uma única questão: “ ser ou não ser”

segunda-feira, 22 de abril de 2013

PRESENTE IMPERFEITO DO PRETÉRITO PERFEITO


Cansei de cavoucar
Concretos com a mão
E colher águas
Com o olhar
Cansei de semear
Flores no deserto
E recolher areias
Espalhadas ao vento
Cansei de procurar
O céu de minha infância
É só achar lembranças
Lembranças e lembranças.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

TATUAGENS



Em meu corpo
As marcas do teu corpo
Em minha alma a eternidade
De teu sorriso contagiante

É pura agonia
Aguentar mais um dia
De tua ausência

Reclama a vida
A outra metade
De minha existência

Em meu corpo
Marcas do teu corpo
Em minha alma
A imagem eterna
De teu indispensável
Sorriso.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

AQUELA INFÂNCIA



Aquela casa não existe mais
Ninguém mais verá
Suas paredes, pintadas de nuvens,
Pau a pique
Seus esteios pintados de céu
Seu piso de tabuas rústicas
E terra batida
E o fogão de lenha sempre acesso
Tudo muito limpo e bem cuidado.
Essa casa não existe mais!

O menino louro não existe mais!
Descalço, andar trôpego, sem camisa
Livre como qualquer bicho do mato
Esse menino que não conhecia
Preocupações, presente, futuro
Só os brinquedos rústicos
Feitos de latas de sardinhas
Retróses e muita imaginação.
Esse menino não existe mais !

Mesmo não existindo mais
Esse menino ainda visita
Essa casa
E nesses momentos, nos olhos do adulto,
Desce uma cachoeira
Como se fosse a cachoeira do Caxambu
Tanta água não afoga as magoas
Deixa-as mais vivas e presente
Com um olhar perdido
No passado
Tão distante
E presentemente perto

terça-feira, 16 de abril de 2013

REINO ANIMAL


Ah! O homem
Esse ser animal
Que se diz racional
Por isso mais predador
Que os demais.
Que faz a guerra
Para dizer que quer a paz
Que inventa jogos e paixões
Cria vida virtual e outras ilusões
Que cria deuses
À sua imagem e semelhança
E domina seus semelhantes
Sem culpa ou benesses

Ah! Os homens
Esse ser fantástico
Tão inteligente e tão arbitrário
Que reza aos céus
Quando se diz com a razão
Mas traz o erro eterno
De julgar com a mente
E nunca com o coração
E ver cada vez mais longe
Um novo horizonte.

Ah! Esses homens!
Ontem, hoje, sempre
O rei do universo
Seguindo miragens
Para cantar em prosa e verso
Heróis e traidores
Como o mesmo senso de adoração
Rotineiramente sabedores
De sua humana limitação

Ah! Os homens...
A benção e a desgraça
Do ínfimo lampejo infinito
Chamado vida.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

GENESIS



I

Ofereço-te
Meu corpo nu
Para que possa explorá-lo
Em toda sua extensão
De norte a sul
Leste a oeste
Decifrando sua geografia
E principalmente conhecer
Suas ilhas incógnitas
Que lhe preconizam o prazer
Todos os segredos
Todos os relevos
Lhe serão revelados
Para que possa comê-lo
Como bem entender
E até mesmo
Nada fazer






II

Ofereço-te
Meu impenetrável interior
Para que nele possa abrir
Estradas
E caminhar como senhora
Na criação do que serei
Amanhã
Você moldará meu espírito
Como uma deusa infalível
E nele soprará
Toda vida que necessito
Até que o pecado venha
Corromper-me
E eu seja expulso
Do teu coração
Ai virá lamentos
E séculos de expiação.

domingo, 14 de abril de 2013

DIVAGANDO




Toda manhã
Aquele desejo
De alguém ao meu lado
Um carinho, um beijo
Sonho acordado

Em meu coração
É alto verão
Tempestades algozes
Trazem enxurradas
De lágrimas e dores

O sol não chega
Nuvens escuras, céu nublado
Mesmo caminho a ser trilhado
Nenhuma esperança de felicidade
Na rotina da realidade
A solidão a mim se aconchega.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

APRISIONADO



Fico preso ao passado.
Órfão de Deus,
Há muito morto.
Acompanho a humanidade
Um atestado de fiel
Vencido
Invalidado pela realidade.
“ se Deus quiser
( como se a vontade fosse dele
E não minha)
Tudo se ajeita”
A vida se aninha
Nas leis do universo
Faço contas
Entre débitos e créditos
Estou sempre no vermelho
Insisto no verso
De que ser velho
É ter vida melhor, mais experiência
E no balanço
Quando há fechamento
Fica explicito
A banalidade da existência.

domingo, 7 de abril de 2013

JUÍZO FINAL




Quando conhecer o juízo final
O meu fim será total
Nenhuma palavra, nenhum gesto
Nada restará
O vaso é ruim
E se desintegrará
Nem mesmo credor
De mim lembrará
Não deixarei bens, nem débitos
Só as grandes dores
Que em muitos provoquei
E por serem imperdoáveis
Espero serem esquecidas
Num apagamento universal
Nem mesmo cinzas restarão
O meu juízo será mesmo final..

quarta-feira, 3 de abril de 2013

QUASE SANTO




Desculpe-me Pablo por este sacrilégio
Colocar teu nome em meu filho primogênito

Meu deus da juventude, deus comunista da poesia
A ti oro toda vez que olho
Meu filho, com carinho.

Ah! Esse nome tão divino e régio
Na boca deste homem inútil
E nada santo

Culpado sou de tamanha heresia
Mas nós, os hereges, sabemos
Caminhar sobre espinhos.

Perdoe-me Pablo por este sacrilégio
Colocar teu nome em meu filho primogênito.