quarta-feira, 23 de abril de 2014

TARDIO



A noite acinzenta os horizontes
Meus passos ouvem silenciosamente
Todas as distâncias e seus caminhos.
Não há um murmurar de fontes
Nem a fogueira de um falar ardente.
Pássaro que povoa os carinhos
Nunca alcança o luar para se aconchegar.
Mas a noite chega e apaga o mar
Que durante o dia passa em frente às janelas

Do agora solitário e perdido olhar.

terça-feira, 22 de abril de 2014

PANE GERAL



Parece que o tempo parou
Não houve  mais casas
De azulejos coloridos na fachada
Dizendo “seja bem vindo!”

Não houve mais
Cozinhas e cheiro de café
Para matar a fome
De alimento, amor
Esperança e fé.

Não houve mais
Cama cheirando a amaciantes
Consagrando  desejos
No altar dos amantes

O tempo parou, é certeza
Mesmo que o relógio
Continue indiferente
Marcando os séculos

Tudo deixou de existir

No momento do partir

segunda-feira, 21 de abril de 2014

MAR DE SAL




Adentra esta paz de sol  e solidão
Mar que invade o seco deserto
Faz ondas quebrarem em praias incertas
Totalidade de ilusão
O mar salgado nada faz reviver
São lágrimas que teimam em descer
Nos rios ilusórios do meu sofrer.
Mar de sal que não mata a sede
Apenas deixa a impressão que ainda não é tarde
Mas sabe-se que o naufrágio não é a solução

Apenas o fim que chega como se fosse o recomeço

domingo, 20 de abril de 2014

CANÇÃO DO AUTO-EXÍLIO





No inverno
pássaros buscam calor
em outras terras.
Mas eu, já exilado,
não tenho onde
descansar minhas asas
e receber o abraço

caloroso do amor.

sábado, 19 de abril de 2014

SENHORA DO BEM E DO MAL





Cheguei aos teus pés
esperançoso
fiel seguidor do amor.
Vestido assim de verde
a implorar teu oásis.
Mas tudo que enxerguei
antes do cair da tarde
um deserto silencioso
e uma rocha maior

que todo o Himalaia

sexta-feira, 18 de abril de 2014

TODO ENSEJO




Não é de ninguém o desejo
De queimar em fogos,
Nem mesmo de artifícios.
Fundos sempre foram os precipícios!
E sabemos que é no Logos
Que da vida está todo ensejo.
Então por que declamar orações

Enquanto torna-se pedra nossos corações?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

ILHA DA FANATASIA




Não somos palavras somente
Aflições mais dilaceradas consomem nossas almas
E mesmo tendo um sol no horizonte
De espinhos fazemos nossas camas

Não há ilusão mais humana
Que o céu é o amarelo do ouro
E nossa faceta mundana
Desviando-nos do verdadeiro tesouro

Hoje tudo que se faz
É um oração decorada
Clemências às faltas eternamente cometidas

E dormir em paz

terça-feira, 15 de abril de 2014

CANÇÃO DE DOR E ESPERANÇA


Há sempre dores em toda parte, até fatais!
Eu também tenho meus ais.

Há dores nos incontáveis acampamentos
Nos sonhos de lavradores por terra e alimentos.

Há dores nas periferias e favelas
Nos roncos de barrigas vazias como as panelas.

Há dores nos partos e infâncias
Nos olhares tão cheios de ausências.

Há dores no nordeste que não quer calar
Nos semblantes que quem é povo só na hora de votar.

Há dores na miséria do Jequitinhonha
Na fome que espreita e é tamanha.

Há dores no povo, esquecido, em geral
Que clama o partir do bolo, afinal.

Eu também tenho meus ais
Por ser cristão e pouco poder fazer

A não ser gritar em brados colossais
Que Cristo ainda não parou de sofrer.

domingo, 13 de abril de 2014

BALADA DE UM EXILADO


Em busca de fantasias
Nas asas da ilusão
Abandonar Antônio Dias
Foi minha perdição

Sei que posso viajar
Para a lua ou para marte
Estar em qualquer parte
Mas é preciso retornar

Não há outro lugar
Que possa abrigar
A paz que almejo
A vida que desejo

É possível deixar
Um sonho adormecer
Quando enfim acordar
Impossível não florescer

És apenas um nome
Batendo sempre à porta
Na saudade que me consome

Mas és tudo que importa

sexta-feira, 11 de abril de 2014

ILHA




Rodeiam-me oceanos
     De quereres
Mas não há uma
    Fruta sequer
Para alimentar-me
       A poesia
Só o abstrato da noite
Ou o cochilar do dia
Naufragando-me
Cada vez mais


quinta-feira, 10 de abril de 2014

EXERCÍCIO POÉTICO 4





Declamar a vida
Em alta voz


Suavizando a subida
Ilimitando o nós



           Eter – n - idade 

terça-feira, 8 de abril de 2014

MAGNAÇÃO


Não haverá mais dia
Nem aquela morte
Que Israel esqueceu
Em Paris não faz frio
No palco dos desejos
Mas não vivo em Paris
Nem tenho os beijos
De Mata Hari
Ou Brigite Bardot
Meu mundo é mesmo aqui
Nas Minas Gerais
Pequeno, mesquinho
Forjado em ferro e ais
Não sei lutar as guerras
Dos leões nem dos vencidos
Mas fiz meu sonhar
Se estender além das estrelas
Não invejo Nova Iorque,
Londres, Casablanca, Tóquio
Nem tenho dos xiitas
O fanatismo e o ódio
Dos ocidentais não herdei
A eterna avareza nos planos do domínio
Vivo minhas misérias
Sem receios da noite



Sou assim
Penumbra em pleno dia
Fantasma quando chega o anoitecer
Por isso não temo mais nada
Nem a solidão dos vivos

Nem o esquecimento dos mortos

domingo, 6 de abril de 2014

AMADA

 



Todas as estrelas do meu céu, és assim
A luz a guiar meus passos incertos
O cajado no qual me apoio noite e dia.


Água limpa da fonte a irrigar meu jardim
Trazendo cores e perfumes, matando desertos,
Sendo meu sol, vivo num arco-íris de alegria.


Ar puro dos campos que estou sempre a respirar
Está em teu corpo presente, é fato real,
Que sem você não há como sobreviver.


És toda arte que necessito conhecer e reconhecer
Deixando de ser ignorante, ermitão e capiau

Em teu ser está a estrada para minha vida caminhar.

sábado, 5 de abril de 2014

SEMPRE NÁUFRAGO



Os meus passos desejam
Encontrar um caminho
Um mar
Uma rota
Onde tranqüilamente
Navegar

Mas não há
Bússola
Nem Cartas Marítimas
Nem mapas
Nem estrelas no céu
Que possam guia-los
Na escuridão

Meus passos persistem
Impassíveis e resistentes
Perscrutando os horizontes
Através das tempestades
Na esperança que haja
Um porto
Um abrigo
Braços abertos

A salvá-los na chegada

sexta-feira, 4 de abril de 2014

MADRIGAL





Sei que o amanhã
É apenas o começo
Mas chegando o dia
No alvoroço do afã
Quero tê-la ao meu lado
Antes que me anoiteço


quinta-feira, 3 de abril de 2014

MISERÁFRICA



É mais que loucura, senão pura quimera
A mão vazia que se ilude na espera
Dias, noites, meses, anos, a mesma esfera
Que rola, rola e sempre a cruel fera
Que mais e mais a carne dilacera

A vida passa sem conhecer a primavera!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

EXERCÍCIO POÉTICO 3





Impossível reconhecer minha sina
Universo infinito de lágrimas e serpentina
Que ninguém sabe a que se destina



Nesse mundo vou vivendo diária rotina
A solidão, companheira, presente em cada esquina

Que falta faz a alma uma presença feminina

terça-feira, 1 de abril de 2014

EXERCÍCIO POÉTICO 2




Um zero e mais nada
             Senão a morte
Há no caminho da vida


A cada minuto
Um átomo a menos
Em nosso ser finito

Enquanto repassam águas
      Vamos, todos, caminhando
Na esperança, alegres, sem magoas

Deus nos fez assim
Reluzentes cartas marcadas

Aguardando nosso retorno no fim