segunda-feira, 30 de setembro de 2013

V.


ela traz o sol no corpo
e seu forte brilho me impede de ver o paraíso
coloco protetor solar, óculos escuros
mas ela se mantém distante
num contínuo e dolorido purgatório
eu, estudante de mil planetas,
não consigo explorar sua superfície
mesmo desejando ardentemente
me perder em teus vales e montanhas

meu desejos imploram
despir de sol teu corpo
deixando-o a descoberto
para que meu olhar possa deliciar-se


ela é o planeta que desejo
fazer uma exploração
minuciosa de reconhecimento


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

TRAVESSIAS



Sempre o andar entre estrelas apagadas
Conhecer o céu das almas desesperadas

Um dia a vida se satisfará pela morte
E não adiantará em nada a busca do Norte

Há de enterrar a miséria da falsidade fraterna
Nos caminhos que levam à noite eterna


É caminhar nas palavras libertas
Para encontrar todas as portas abertas

O nada não existe, nem o fatal

O caminho é longo, sem porto final.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SEM VENCEDOR



São Jorge ou o dragão
Não sei qual escolher não


É porta, é pedra, é ilusão
As palavras se espalham
Em templos, pirâmides, estantes


Eu, no meio de tudo isso,
Não sei do que mais preciso
Para explicar o gozo dos amantes


E continua sempre em vão

A peleja entre São Jorge e o dragão

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

POEMA DAS SETE FACAS




Quando nasci
Não havia nem mesmo
Um anjo torto
Para me consolar
E me dá um destino.
Havia sim , uma escondida lua
Impossibilitada de brilhar
Pelas lágrimas que o céu derramava
Num choro de deuses e demônios


O cavalo passando encilhado veloz
Sem ter como montar.
A carga cada vez mais pesada
Nos ombros e na alma.
Muitas estrelas mortas
Sem deixar nenhuma pista

Muito trabalho e pouca melodia
Sem se ver o fim do dia
É preciso mais que catecismo
Mais que um altar para orar
Para se ter comida na mesa
E na cama um pouco de beleza


Tenho tentado esculpir as palavras
Com fino formão e leve martelo
Diamante bruto que não permite lapidação
Não se faz nenhuma nova nota na canção
A vida impedida de, um dia, ser sinfonia.

Semear em deserto para colher oásis
É sina de todo sonhador
Mas vou criando família
Numa ilha de sal
Matando fertilidade
De braço, perna, cabeça e boca

Sacramentado o juramento
Guerreiro não tem descanso
Nem direito à desistência
É fazer trincheira de sonhos e desejos
Sobreviver com a ilusão


E há caminhos
Há distâncias
Que o olhar teima em percorrer
Sem saber que a falta de destino
Já matou o menino

Já matou o amanhã.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

IDEOLOGIA




Se eu não tivesse
Que cumprir horário
Todo dia, todo dia, todo dia
Abraçaria consciente a burguesia
Como uma verdadeira messe
Não ficaria do lado contrário


Se não tivesse eu
Para sustentar uma família
Filhos para educar
Filiaria à burguesia
Com certeza um céu
Poderia eu alcançar


Mas a burguesia
Tão velha e tão ativa
Tem o ócio como freguês
O sangue nosso de cada dia
Num sugar que escraviza
Sai mês, entre mês.


Se eu não tivesse
A consciência de classe
Seria mais um vagabundo
Faria parte da burguesia
Viveria de explorar o mundo

De pernas para o ar viveria.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SER OBJETO



Ficar esquecido
No quarto de dormir
Entre o céu e o inferno

Ficar desligado
No mundo do vim e ir
Como ser interno

Ficar paralisado
Na rua do florir
No sonho externo

Ficar intrigado
Com o chegar e o partir
Enfiado num terno

Ficar embriagado
Até cair e fugir
Das palavras no caderno.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

AS FLORES DO CAMPO



As flores do campo
Belas em sua simplicidade natural
Acenam conforme o vento
Dançam conforme o tom musical
Que a terra oferece aos itinerantes.
Ah, meu Deus ! como eu gostaria
ser assim simples, de alma esquecida
e passar no mundo sem hipocrisia
dançar conforme o tempo
cantar conforme a música da vida.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

UM



Quem faz um poema procura
Com um olhar de criança
Encontrar no fim da rua
O caminho da esperança


Quem faz um poema deseja
Espalhar a voz do Consolador
Que a vida assim seja
Mais que trabalho, fome e dor


Quem faz um poema, enfim,
Não se alimenta de ilusões
Tem confiança que um jardim
Nascerá em todos os corações


Quem faz um poema
Traz um fogo na mão
Com objetivo de tirar de cena

O orgulho, a falsidade, a opressão.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

COTIDIANO


Hoje
De tão cansado
Abatido, desanimado
Deixei de escrever
O poema desejado
Inspirado
Na fila dos homens
Que vão alegres
Para os matadouros das fábricas
Sinto-me marginal
No mundo da lua
Interespacial
Mas é um desanimo individual
Afinal
A seleção ganhou
Mais um mundial
E o povo está
Como sempre
Alegre, muito sorridente,
Com o circo
E o pão
( mesmo que o pão
seja só para enganar
o estomago

até a próxima ração.)

domingo, 15 de setembro de 2013

ITINERÁRIOS



Quero o amanhã novo em folha
Verde como a esperança de um olhar
Invadir meu itinerário e mudar
O quê a vida me deu como escolha


Não quero mais o viver empacotado
Entre prédios e avenidas desconhecidas
Detesto o abstrato. As janelas escancaradas
É tudo que tenho sonhado e desejado


Busco a  mansidão do riacho e o silêncio
Comunicativo da natureza. Velhos chalés
Com história conhecida e sem artifício

Tenho saudades da terra sob meus pés.

sábado, 14 de setembro de 2013

1/2






não há mais nada
       a fazer aqui
Deus já fez o nada
              E o mais


Nem mesmo a opção
                   De partir
O jeito é ficar

               E sorrir

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

DOIS



Calaram  o vermelho!
Todo mundo agora
Ao lucro/dinheiro adora.
Rasgaram, enfim, o Evangelho!



O povo pede bis
Quando o poema é
Escrito a sangue e filé

E não a giz.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O EU ANTIFATALISTA



Não quero mais saber do mundo capitalista
e sua sociedade consumista
com sua elite eternamente fascista
quero virar pseudo-artista
plantar milho na Avenida Paulista
tornar-me agora ambientalista
humanista, comunista, socialista
a terra como mãe, ser naturalista
um novo Éden enfim se avista
sem o pecado original nazista
sendo Jesus e também João Batista
profetas do nosso Pai Budista
o homem como ser reencarnacionista
numa lição nunca dantes assistida

vamos ser filhos do Grande Roteirista.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ELEGIA FINAL

 


Há de se cantar assim
A manhã, o dia, a noite
O cheiro doce  do jasmim
A loucura animal do açoite


Há de se cantar na totalidade
Os gritos dos famintos na esquina
Rompendo as amarras da sina
Que deveria guiar a humanidade


Há de se cantar em especial
Os clamores a ídolos e deuses
Que dormindo no infinito espacial
Não escutam os filhos teus


Há de se cantar o todo que encerra
A vida, o desejo, a alegria
Tudo além do bem e da guerra

Que findará com a existência um dia.

domingo, 8 de setembro de 2013

RETRATO DA TERRA NATAL



Um povoado perdido entre as montanhas
Esquecido do tempo, dos deuses, dos homens
As esmeraldas que os olhares  alcançam
Se transformam  em  safiras
E se perdem nos horizontes.
Como cobra o Piracicaba
Serpenteia por tuas ruas
Engolindo restos que a historia desprezou,
Como desprezada foste tu pelo progresso.
Agradecidos, os homens, te oferecem a vida,
Quietos, conformados, sem sonhos, ambições
E dia após dia a rotina do silêncio
Vai caminhando por tuas casas seculares
Até aportar na igreja matriz
De Nossa Senhora de Nazaré.
E na presença de mortos oram e confessam
Pecados que o tempo amarelou
E Deus já esqueceu,
Em cada pedra o visível sinal de envelhecimento.
E eu também me envelheço,
Que o tempo é senhor,
Mas de ti não esqueço...

Seja onde estiver e por onde for.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

CHAVES



Não pretendo ficar
Sem endereço, sem lar

Ir além do destino
Voando infância e menino

Só a palavra
Ou a realidade
Não abre a porta.


Recordar
Tem-se a chave

De viver e voar

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A QUEDA PARA O ALTO



Poema opaco,sem força, sem fama
Com poder de água corrente
Lavando toda lama
A força de apagar o fogo da paixão
Esse pássaro que voa sem despedida
E deixa bem latente
Um matagal de mágoas
Onde difícil é brotar
O verde da esperança e da vida
É sempre um misto de queda e redenção
Quando transformarmos os sonhos em amor

Nunca mais veremos a cama vazia.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

EXTASIAGEM





Eu poderia cantar tão só
Tão só cantar o olhar
Olhar a alma sem nó
No êxtase de poder cantar


Falar de sonho tão real
Real é todo sonho assim
Espalhar flores do laranjal
No êxtase de criar um jardim


Descrever o amor tão desejado
Como desejada é toda primavera
Semear abraços no mundo agitado
No êxtase de plantar outra era


Olhar toda alma sem nó
Sem nó interpretar o olhar
Tudo que basta, o amor e só
No êxtase da multidão a cantar.