ERECTUS HUMANUS

A vida é
Sempre a mesma mentira
Relógio e patrão comandam tudo
Não há como ter fé
No prazer enquanto ainda respira
E muito menos num improvável outro mundo



O sol nasceu para todos
O viver é para poucos
A maioria sobreviver de teimosia
Como operários, vagabundos, loucos.

DESTINO

I
O que deveria ser
Vastidão verde
É sempre tão desértico
Como a tarde
E em sua eterna presença
Mal o sol brilha
A noite tudo enegrece
Mal que a alma padece
Não tem cura
Nunca haverá salvação!
Vai andarilho
Percorrer estradas sem fim
Amanhã não haverá ida
E o olhar perdido
Manchar-se-á
De nuvens e trovões
É Antonio Dias que desaparece
Da memória e fotografias
Para quem nasceu
Burro de carga
Assis morrerá
A porta para a felicidade
Nunca abrirá.


II

A vida não me mostrará
Outros caminhos
Pelos quais trilhar
Diferentes horizontes
Fico a mirar
Mas nunca sei
Como lá chegar.

O meu viver se exilou
Numa terra de espinhos
Prisão difícil de escapar
Como seguir em frente
Se nunca sei onde pisar
Mesmo sem fé pelos cais orei
Nem deus pode me orientar

A vida não quer entregar
O direito de viver dos sonhar.

DILEMA

Sempre há uma estrada
Que leva ao centro da cidade

Eu prefiro a periferia.

Eu sou do campo
E sobrevivo do centro urbano
Por isto esta indecisão
Que carrega toda a felicidade.

CAI A LONA

Antônio Dias ficou
na lembrança
da infância
deixei os meu sonhos
no alto da montanha
e desde então
o desespero me acompanha
a minha vida
o Rio Piracicaba levou
não sei para onde
agora, peregrino errante
não sei em que porto chegar.
Caminho já não há !!!
tudo vai se embaraçando
na retina do passado
tudo que restou
uma existência sem sabor
um palhaço desolado.

SÍNTESE

A existência toda
Ao acaso jogada
Cabe no verso
E ocupa o universo

Cabe o engenho do meu avô
De cabelos brancos, no comando
Os sonhos do primeiro amor
Que na timidez foi se perdendo

Uma vida toda
É quase nada
É cedo e é tarde
Numa palavra cabe.

Uma vida sem louros
Sem prata ou ouro
De lutas infindas
Perdidas buscas a tesouros.

Missões descabidas!


É toda uma vida
Mesmo sem saber
Que gosto a vitória
Possa ter.

Nascer, viver, morrer
Nada além
Do já escrito.
Mesmo outro querer
Outra imagem
Não vinga
É duelo proscrito.

TEMPESTADE

Trago dentro de mim um desespero infindo
Um desespero maior que Minas, maior que o mundo
Nem fome, nem quereres, nem desastres me sensibilizam.
Em meio à violência banal
Não há nada que faça um coração sorrir.
Eva nunca foi Alice!
Nas centenas de países
Todas as rainhas estão loucas.
Nenhum ser chegará de Capela
Para que Atlântida se faça real
E se acabe com esta vida de gado
Na fila do matadouro.
Mesmo que a natureza viva a gritar comigo
Esse desespero encontra alimento e abrigo
E não se desfaz
Apenas muda sua forma
Areia no deserto em dia de tempestade.

CANÇÃO PARA CELEBRAR A VIDA

Eu sou o deserto estéril
A estrada velha que não passa por este chão
O fogo da queimada que mata a vida
Eu sou o escorpião, a serpente
O vírus que marta silenciosamente
Eu sou o norte-americano que aprisiona a liberdade
Eu sou o relâmpago que traz a tempestade
Eu sou a peste, a fome, a opressão
Que faz a vida ser vivida pela metade.

De nome e profissão sou cristão
Mas meu deus sempre foi a riqueza
A bíblia é minha mina de ouro.

Eu sou o rio que nunca chegará ao mar
Eu sou a bomba que explode
Matando somente inocentes
Eu sou a noite que nunca amanhece
Eu sou o dia com eclipse total
Eu sou o norte,
Eu sou o ponto final.

PEQUENO ANÚNCIO

Precisa-se urgente
Homens sonhadores
Mulheres grávidas de esperança
Para serem semeadores
Em todos os humanos corações
Da inocência de criança

O pagamento será
Um mundo de muito verde
A garantia de belos horizontes
Nossos passos a trilhar
Um amanhã de paz
E solidariedade.

ALFA E ÔMEGA

Noite inteira passada insone
Labirinto que se abre na mente
Água e fogo que me consome
Onde finda o horizonte?

Céu e inferno, velhos conceitos
Que não satisfazem como resposta
Todas as filosofias trazem defeitos
E se calam diante das perguntas

Buscar a verdade é espinhoso
A ciência não sabe explicar
A religião não muda o linguajar
Um circulo incompleto e vicioso

E o homem sem saber para onde ir
Estradas que não levam a lugar nenhum
Sempre estamos partindo, a fugir
Das ilusões e do sonhar comum.

RAÇA

Todo ser humano é uma ilha
Todo ser humano é um continente
Pensamentos iguais
Em mentes diferentes
Desejos unidos
Em corpos vários
Vozes diversas clamando
Pelas mesmas realizações
E nestes sonhos
De mentes e de corações
Vivemos uma verdadeira
Algaravia
De idéias, planos, desejos
E ações
Em busca de um mesmo horizonte:
Felicidade e paz !

ALGUNS SEGUNDOS

Com a esperança impressa nos olhos
Desde menino vou seguindo por caminhos tortuosos
De mãos dadas com a felicidade
Vou colhendo muitas mentiras e poucas verdades.

Um olhar que enxerga além do horizonte
Quer água fresca bebida na fonte
Toda palavra jaz morta e enterrada
Falsa profecia é a cada minuto plantada.

Enquanto puder manter o olho aberto
Vou plantando oásis e colhendo deserto
Caminhando por mais rigoroso que seja o inverno
Passageiro do momento na nave do eterno.

V./2

ela se veste de laranja
e ilumina mais que mil luas
clareia todo o universo
clareia todas as minhas ruas
e nesta luz se esbanja
e eu, pobre coitado, apaixonado
fico perdido, desorientado,
e desabafo a dor num verso

IDÍLICO NÚMERO 2

O que importa a convenção
Do mundo dos humanos
Se nosso amor está em outros planos
Aos olhos dos homens
O que importa é a lei
Aos olhos de Deus
O importante é o amor
O nosso amor é pleno e eterno
Eu sei
Que em duas almas gêmeas
Se consagrou
Em corpo e alma é sua beleza
Criada pelo Escultor
Com tamanha singeleza
Nenhuma Vênus a ti compara
Única deusa de todo universo
Oh, doce Yara!

TERCEIRO POEMA PELO FIM DOS EXÉRCITOS

Cinco horas da manhã
Batem os sinos
Acordam os soldados
Aprendizes de assassinos
Um novo dia, o mesmo afã
Sentirem-se poderosos armados.

A humanidade sempre ameaçada
Por guerras que não acabam mais
A paz destruidoramente armada
A vida deixada para trás
Não há Deus que dê jeito
Se o coração não é o eleito.


Em muitos países é obrigatório
O aprendizado de morte e destruição
Causando danos incalculáveis
Não haverá futuro satisfatório.
Enquanto não houver total eliminação
Destes seres inúteis e desprezíveis.

A VIDA É BELA

Meu coração
Derrama lágrimas
Por este meu povo sofrido
Sempre vivo de esperança
Pura teimosia
Sobrevivendo de dor
E de milagres.
No corpo tantas vezes crucificado
Ainda nascem
Sorrisos
Flores de oferenda e agradecimentos
Por simplesmente estar vivo.

Tenho subido o morro
Anos a fio
Vã tentativa de atingir
O inatingível horizonte.
Socorro!
Não há estrada
Nenhuma ponte
Eu quero descer...

É imperioso tentar
Outros caminhos.

Nunca desistir!

AGNOSTICISMO

Queria escrever um poema
Sobre Jesus
Tão cheio quanto
O mundo de fé

Impossível é !!!

Em meu peito navega
Muita escuridão
E uma única luz.

Por mais pesada
Que seja a cruz
Nenhum homem
Pode tornar-se Deus.

DOZE DE OUTUBRO

acreditar que Deus se fez homem
é torna-lo imperfeito
fazer Dele a nossa imagem
como fraquezas, ingratidões, defeito
mas o diabo que somos uns capetas
fazemos de brancas coisas pretas
e por este caminho não há salvação
acreditar puramente na pregação
da Igreja Católica Universal
Apostólica Romana do Reino de Deus
É faltar à uma verdade espiritual
De que há um único Zeus.
E para chegarmos ao Olimpo
Temos que manter o olhar limpo
Sobres as coisas do céu e da terra
E beber diariamente da Fonte
De onde corre mais que mel.

ETERNO SOL

Estrelas no firmamento
Seu nome me vem à mente
Em todos os momentos
Sinto perfume de mil flores
Matizes de incontáveis cores
Em teus sorrisos existentes

Soletro mensagens imagináveis
Que o coração apregoa
Como um leilão de céu
E cai a máscara, cai o véu
A alma do amante voa
Mundos, até então, inexploráveis


A vida se faz aberta e clara
Um brilho de sol durante
Dia e noite faz do horizonte
O sonho agora realizado
Há em tudo um nome soletrado
Bem maior que o céu ... Yara!

V.

ela traz o sol no corpo
e seu forte brilho me impede de ver o paraíso
coloco protetor solar, óculos escuros
mas ela se mantém distante
num contínuo e dolorido purgatório
eu, estudante de mil planetas,
não consigo explorar sua superfície
mesmo desejando ardentemente
me perder em teus vales e montanhas

meus desejos imploram
despir de sol teu corpo
deixando-o a descoberto
para que meu olhar possa deliciar-se


ela é o planeta no qual desejo
fazer uma exploração
minuciosa de reconhecimento

TRAVESSIAS

Sempre o andar entre estrelas apagadas
Conhecer o céu das almas desesperadas

Um dia a vida se satisfará pela morte
E não adiantará em nada a busca do Norte

Há de enterrar a miséria da falsidade fraterna
Nos caminhos que levam à noite eterna


É caminhar nas palavras libertas
Para encontrar todas as portas abertas

O nada não existe, nem o fatal
O caminho é longo, sem porto final.