sábado, 28 de março de 2020


         HISTÓRIA DOS MORTOS



Chegaram numa tarde de verão
Trazendo guerra
E deram suas ordens.

Obedecemos!
Abaixamos a cabeça,
Fizemos da terra um campo de batalha.

Matamos uns aos outros
Mas nunca fomos inimigos
E eles festejando
Nas poltronas de seus abrigos.

Acordamos tarde nossa consciência.
Nos destruímos a nós mesmos
Numa guerra que nunca foi nossa
Guerra somente desejada
Por generais e comandantes
Testando suas estratégias e armas.



                             Magno Assis

sexta-feira, 27 de março de 2020


         FLERTE


Com o olhar
Incentivou-me ela
A carícias trocar
Além da janela

Mas
Com  seu pudor
Não deixou
Livre
O caminho


Flor
E beija-flor
Com medo do contato


Agora
Já não sei
Se quem morreu
Foi  a flor
Ou o beija-flor
Ou um pedaço
De cada ator


     Magno Assis

segunda-feira, 23 de março de 2020


         GAFE


 Quis amá-la
       Objeto
de aprendizagem
       percorrer
geograficamente
numa admiração
                          de museu.


Quis amá-la
         Como
Quem nunca teve
         Uma folha
Em branco
          Para
Escrever
                      Um verso
          Refazendo
Todo  seu universo


Quis amá-la
         Como
Calouro do mundo
           Mas
Ela já formada
         Não viu
Necessidade de
         reciclagem



       Magno Assis

sábado, 21 de março de 2020


         SEMPRE A SOLIDÃO



Todos os fins de semana
São iguais
Em minha solidão.
Percorro ruas que vejo sempre
Desertas
Só tenho olhos para você.

Entro em um bar qualquer
Peço bebidas como um viciado
A assim totalmente embriagado
Procuro inutilmente te esquecer.

Meu pensamento longe viaja
Á tua procura.
Na solidão de minha rua
Choro por não tê-la em meus braços.

Ah! Meus sonhos ! meus sonhos
Estão todos em tua companhia
Arrastando com eles minha alegria.

Caminho com passos incertos
Lanço mil protestos
A lamentar sinto
Que nada apaga minha ilusão,
Que nada esconde minha solidão,
Para viver em nada vejo razão.

terça-feira, 17 de março de 2020


         ETERNOS MISTÉRIOS




Coração por onde andas ?
Voas mais longe que pássaros.
Os portos onde tu ancoras
São misteriosos labirintos.



Coração por onde andas ?
É preciso decifrar teus caminhos.
Será  que ainda não cansaste
Desta louca procura por carinhos?



Por onde andas, coração meu ?
É mistério este teu caminhar.
Penso não ser mais possível
Sem sofrer, te acompanhar.


Necessitas achar um caminho seguro
Onde para sempre trilhar.
Necessitas acabar com todas as dúvidas.
Onde estás a caminhar?


                 Magno Assis

domingo, 15 de março de 2020


         NO ENCONTRO DAS HORAS



No encontro das horas
Desencontram vidas.

Há fadigas em toda parte
Nada sobra de arte.

A esperança que não chegou
A  engatinhar
Morreu de opressão
Levada pelo mar.

No mundo não se encontra mais
Alegria, amor, aceno e paz.

Há desencontro de vidas
No lento passar das horas.

O sonho de ontem...
Hoje apenas miragem.

As sempre novidades aqui na terra:
Fome, morte , competição, guerra.

Destruíram-se os muros,
Construíram-se fronteiras
Para a vida
As mesmas barreiras.

Há um passar de vidas
No encontro das horas.



      Magno Assis

terça-feira, 10 de março de 2020


         GARIMPEIRO




No rio da vida garimpei ilusões
Impossível foi separar
Areia e ouro
Encontrar o tesouro
Que as águas me reservaram.


Nunca alcancei o eldorado.
Todo sonho de esmeraldas e diamantes
Ficou enterrado, cruz na estrada.
O fim do ideal: escureceu o horizonte
Restou da vida destruída
O nada.



  Magno Assis

segunda-feira, 9 de março de 2020


         NECESSIDADE NATURAL

 


É preciso
Vaguear meus sonhos
Nos campos dos sentimentos
Montado no lombo da esperança
Percorrer a mata criança
Reunindo no curral meus anseios.

É preciso
Que o mugir da saudade
Não habite meu coração vaqueiro.

É preciso
O cantar de pássaro livre
Na manhã das águas
Onde banham-se meus sonhos.

É preciso
Que a cerca da divisa
Não corte meus ideais pela metade.

É preciso
A fazenda seja o mundo
Refazendo minha batalha.


       Magno Assis

quarta-feira, 4 de março de 2020


         AMO SIM



Amo sim !
Aquele amor inocente
Capaz de cravar nas árvores
Dois corações entrelaçados
Para que os pássaros
Cante-o além dos horizontes.

Amo sim!
O amor de acordar à noite
E debruçado na cama sonolento
Ficar e admirar o ser amado
Sonhando.

Amo sim!
O amor de pura liberdade
Que viaja com a lua
A procurar na noite nua
O corpo amado e nas carícias
Descansar quando o sol vem.

Amo sim!
O amor que sobrevoa os jardins
Colorindo e perfumando as flores
Abraços apertados no banco da praça
E cheio de iluminada graça
Levantar vôo ao encontro da felicidade.


Amo sim!
E todo meu ser se resume neste amor
A saudade às vezes castiga
Não me queixo
Sei que o coração que me abriga
Nunca deixa descer as lágrimas da dor
Num viver solitário.


Amo sim!
E como é bom poder declarar
Para quem quiser ouvir
Para quem sabe valorizar
O significado de tamanha declaração
Amo sim!
Amo !
Sim...


                  Magno Assis



         ENFIM O FUTURO ?



Posso estar enganado
Não sou sábio
Predestinado
Se estou enganado
Peço-lhes perdão
Meu conflituoso coração
Vive sempre a delirar
Não consigo me ligar
Às criações humanas
Tão desumanas
Usadas para dominar.

Se desejo orar
Para o céu dirijo meu olhar
Reparar o mar
O verde festejar
Fé não preciso comprar
Em templos, igrejas, me confessar.

Se desejo amor na vida
Acaricio a esposa adormecida
Escuto a canção esquecida
A simplicidade destruída
Não necessito de roupa etiquetada
O carro do ano da propaganda
Os falsos valores da sociedade aburguesada.

Se é beleza que quero
Eu pássaro reparo
Nas cores das flores multicoloridas
No sorriso das crianças amadas
Não existe necessidade
De viagens fantasiosas
De bebidas e drogas
Consumindo toda dignidade

Me perdoem
Não posso suportar
Os exércitos loucos
As lucrativas guerras
Os sonhos tão poucos
Derrotando as serras
Os assassinos de gabinetes
Hipócritas governantes.

Não posso aceitar
A  humanidade fatal
Preparando sem pensar
Seu triste funeral.

        Magno Assis

terça-feira, 3 de março de 2020


DESENCONTRO


O desespero solta-se no ar
Punhal de dor afiado
A penetrar-me o peito


Procuro a morte. Desesperado.
Não a encontro em parte alguma.
Procuro a vida. Uma saída.
Não a descubro como desejo.
Escondida estarás
No baú enterrado em lugar
Desconhecido.


Não encontro o mapa
Da mina
Para em Minas
Ser feliz e viver.


Magno Asssis

segunda-feira, 2 de março de 2020


      RESTOS DE VIDA E ARTE 


O corte fundo
Profundo
O talho firme
E forte
Tirando vida
Da caneta
Da poesia
Trouxe tristeza
E morte
Ao nosso dia
A faca vermelha
De sangue
O corpo suado
Amaldiçoado
Um ser vivido
Experimentado
Formado
Na universidade
Na adversidade
Da vida
Vivida
E revivida
Não conseguiu
Juntar restos
De vida viva
Em mexido magistral
Lápis com tinta real
Escrevendo
Ou tentando escrever
Os restos de vida
Poetar



       magno assis