terça-feira, 28 de abril de 2020


         RECICLAGEM




No princípio era apenas pó.
Comprimiu-se o pó, fez-se o homem.
Com o homem nasceu a solidão
E da solidão criou-se a mulher.
A mulher fez surgir o amor
E do amor veio a saudade
Trazendo consigo a dor
Em prantos suportada.
E mesmo fingindo ser vida
É na realidade morte.
E na morte
Chega-se finalmente ao fim
E tudo torna-se pó.



               Magno Assis

sexta-feira, 24 de abril de 2020


         DIVINA TRAGÉDIA HUMANA



O ouro corre pelos dedos
Humilhando crianças, jovens e adultos
Nos misteriosos mistérios dos homens.
A alma enxuga toda água
Que um dia lavou o senso de justiça.
O corpo encharcado de cachaça
Mancha de sangue a beleza da história
E a mente louca da louca humanidade
Cria seus ídolos de traidores e sanguinários.
Bandidos viram heróis e heróis viram bandidos
E todos, controlados ou iludidos,
Consomem com suas próprias mãos a vida.
Ouve-se choro e gemido por toda terra,
A vontade de seres na busca por sobrevivência,
Nos prazeres e dores de uma existência
Manipulada, alienada, comandada.
E o fim próximo aumenta mais a melancolia
Desta tragédia sustentada pelo lucro
Que do final aproxima mais e mais a cada dia.



                 Magno Assis

quinta-feira, 16 de abril de 2020


         LOUCO QUERER


Quero que o mundo ouça meus versos
Como cânticos de liberdade lançados ao
                                                                           vento
e os recolha de mãos abertas
mãos que doam aos irmãos
o pão para matar-lhe a fome
o sorriso que a vida lhes tirou
a felicidade que vive a procurar.


Quero que meus versos sejam enxadas
A capinarem a terra da esperança
E os poetagricultores lancem a semente
Para dela brotar a liberdade
Que o povo procura e nunca alcança.


Quero que meus versos sejam a defesa
Dos oprimidos, torturados, massacrados,
                                                                        exilados
que deles se façam um país
onde todo homem seja realmente feliz.


Quero que meus versos sejam povo
E o povo seja simplesmente poesia
Que eu possa assim cantá-la livre
Um pássaro cantando sua melodia
Em pleno coração da floresta.



Quero que meus versos sejam proféticos
Sejam escutados e executados
Que sejam alimento onde faltar pão
Que sejam paz onde houver guerra
Que sejam a vida onde haja mortes
Que sejam liberdade onde exista correntes
Assim sua profecia estará cumprida
E inúteis tornarão.


E tornando-se inúteis
Serão recolhidos à gaveta
Do meu coração.
Neste momento todas as pessoas serão
Poetas
E terão seus próprios versos
Escritos pelo próprio sangue.

                    Magno Assis 

domingo, 12 de abril de 2020



         MORTE SENTIMENTAL



Penso que hoje é Domingo
Quero tomar vinho com os amigos
Tirar meus medos de seus abrigos
E espalhá-los pelas mesas do bar.
Quero fingir que o ontem não passou
Que o amanhã nunca chegará
Quero colorir o presente
Com o vermelho tinto
Do vinho de minhas veias
Ninguém enxergará o infinito
De minha momentânea morte sentimental.



                              Magno Assis

terça-feira, 7 de abril de 2020




         EM AMOR E DOR

 

Escrevo
Um verso
Um poema
Meu tema
O amor
A dor.

Um verso
Escrevo
Por amor
E na dor
Que sinto
No peito
Solidão
Saudade


No coração
Escrevo
Um verso
De saudade
E solidão
Abandonado
Estou
Choro
Clamo
Por amor


Escrevo
Um verso
No coração
Que chora
Por amar
Quem foi
Embora.


Na solidão
Fico
Sobrevivo
Escrevendo
Versos
De amor
De dor.



                  Magno Assis

quarta-feira, 1 de abril de 2020


         TENTATIVA




Ainda tento ser feliz
Apesar de encontrar nas estradas
Flores sem raizes
Destruindo sempre meu jardim

Desejo uma vida
Abandonada na minha
Um abrigo
O sonho que caminha
Olhando
Seguindo
Vivendo o horizonte.


Ainda quero ser feliz
Ainda quero  ser
Um sorriso na vida de alguém
 que o amor escolher



        Magno Assis