sexta-feira, 29 de julho de 2016


SEARA








Preparei cuidadosamente a terra

Muito semeei

Trabalho árduo, de sol a sol

Quando chegou a primavera

A tanto tempo esperada

A colheita foi quase nada

Para a maioria

Mesmo sem plantar

Há muita alegria

A vida tudo doa

Mas para este agricultor

Fica apenas as migalhas

Que não recompensa

O esforço de plantar

quarta-feira, 27 de julho de 2016


QUASE SANTO






Desculpe-me Pablo por este sacrilégio

Colocar teu nome em meu filho primogênito



Meu deus da juventude, deus comunista da poesia

A ti oro toda vez que olho

Meu filho, com carinho.



Ah! Esse nome tão divino e régio

Na boca deste homem inútil

E nada santo



Culpado sou de tamanha heresia

Mas nós, os hereges, sabemos

Caminhar sobre espinhos.



Perdoe-me Pablo por este sacrilégio

Colocar teu nome em meu filho primogênito.

sexta-feira, 22 de julho de 2016


 PALHAÇO








No peito um coração trapalhão

Que busca da vida

O sabor

Que vá além da partida

E do calor

De nossas duas almas fundidas

Numa só cor

Esse coração quer amar mais

Ainda que seja tarde

Há ânsia por outros cais

E não esse sempre

                    Mínimo mar

terça-feira, 19 de julho de 2016




EXISTENCIAL






Não acredito na vida eterna.

Será minha existência um fracasso?



Em meu altar

Buda, Cristo, Alá, Khrisna

Têm o mesmo espaço

E estão calados

Eternamente calados!



Não acredito na existência da alma.

Será minha vida vazia?



O meu fantasma

Lembrança do que fui, do que fiz

Não valerá um sorriso?

Não valerá aquele momento feliz?



Na morte, o fim.

O tudo e  o nada.

Termina assim uma mente condenada?

sábado, 16 de julho de 2016


SEM AMANHÂ










Minha alma

Sempre acompanha

Outra alma

Que lhe dê um pouco de atenção



E caminha sorridente

Pelas estradas da felicidade

No país do prazer



E depois

Há sempre o retorno

Desesperadamente   decepcionada

Procurando abrigo

Noutro sonho em vão.

quinta-feira, 14 de julho de 2016


APESAR  DE  TANTO  SONHAR








Apesar de tanto sonhar

Eu nunca fui Di Stefano

Eu nunca fui Pelé

Eu nunca fui Maradona



Eu nunca dei o que falar

Nem mesmo quando cai o pano

Ninguém vai dizer assim

Este foi o cara

Que a vida agora abandona



A vida me abandonou ao nascer

Nunca conhecerei a eternidade

Eu nunca fui

                     Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 6 de julho de 2016


      EXISTÊNCIA








É quase noite

Um deserto

O silêncio



O passado

É uma foto sorridente

Puro cinismo

Sabendo o futuro.



Papel em branco!!!

segunda-feira, 4 de julho de 2016


ALTAR










O deus em

Que creio

Não é o deus

Do belo

Não é o deus

Do feio.



O deus em

Que creio

É bem mais insano

É  o deus da paixão

Que deixa em brasa

O peito humano.